sábado, 9 de outubro de 2010

PAI(xão) da minha vida

Hoje é um dia comum, como muitos outros em que a saudade não pede licença e invade o meu lar. É um dia em que eu sinto a falta dele, uma saudade que machuca e aperta o peito.

Ahhh... Como eu sinto vontade de abraçá-lo, de beijar aquela careca em início de formação, de deitar com ele na rede e ouvir suas historinhas. Que saudade de almoçar com aquela figura sempre à ponta da mesa, sujando o bigode de suco para me fazer rir, e dizendo à minha mãe o tempo todo que não deixasse faltar nada. Que saudade de comprar sorvete e ir à casa da minha avó escondendo-o só para ele inventar que eu tinha esquecido o sorvete diet dela. Que saudade de chegar em casa e ouvir sempre a mesma pergunta: “Como foi a aulinha hoje?”, e de saber que a ele eu podia contar todas as pequenas coisas do meu dia, porque ele se importava com elas.

Saudade de quando ele chegava de viagem e me trazia de presente um saco de confeitos ou uma caixa de tortuguita. Saudade de ir à padaria comprar pão de mãos dadas a ele, saltitando de alegria. Saudade de entrar no quarto de fininho, enquanto ele assistia a Zorro na TV, e furtar as moedinhas de sua carteira que ficava sempre no mesmo lugar. Saudade de acordar com ele cantando para minha mãe: “Acorda, dona Maria, levanta pra fazer o café, que o dia já está raiando e Hosaninha já está de pé...” E saudade das suas manias engraçadas, de tomar banho ouvindo rádio, e sua loucura de raspar a cabeça e a sobrancelha para um carnaval.

Quanto orgulho eu sentia quando ele ia me deixar na escola... Quão feliz eu fiquei ao ganhar de presente dele um livro de contos de fadas... Quantos sonhos eu tinha ao vê-lo todo vestido de branco e imaginar um futuro igual para mim...

Aquela menina de olhar inocente e cabelinho curto, preso em forma de coqueiro, jamais poderia imaginar o que lhe aconteceria. Jamais poderia imaginar que lhe tirariam seu pai tão precocemente, o homem que tanto a amava e que sentia orgulho da sua pequena. E ele? Quem poderia imaginar que não o deixariam ver o seu “ourinho” crescer?

Lamento muito que ele não possa ter visto o meu cabelo mudar, meu corpo se transformar, meu gosto pela leitura vir à tona por causa de sua influência. Ele não me pôde ver discursar como oradora da turma na formatura, não pôde aplaudir meu sucesso, e não esteve presente para comemorar minha aprovação no vestibular. Pior do que isso, ele nunca vai poder me levar ao altar, se um dia eu vier a casar na igreja.

Infelizmente, nós temos mania de achar que as pessoas que amamos estarão eternamente ao nosso lado e não encaramos a hipótese de perdê-las, tamanha tristeza essa possibilidade nos traz. Deixamos de viver muitas coisas, por achar que temos a vida toda para vivê-las, quando, na verdade, não temos. Deixamos de dizer palavras de afeto, por acreditar que automaticamente as pessoas já sabem o quão importantes são para nós. E eu fico imaginando como seria a minha vida hoje se ele estivesse aqui, o quão meu destino poderia ser diferente. Na verdade, talvez tudo fosse diferente.

Há 13 anos ele se foi, mas muito dele ficou gravado em mim. E, se eu nunca pude dizer o quanto o amava, certamente expressei esse sentimento em cada singelo abraço de criança. O homem que se orgulhava tanto de mim, o homem que me chamava de Ourinho, o homem que me fez sentir vontade de ser alguém, o médico que ajudava às pessoas, independente de quem fosse. Meu pai, meu herói, meu mentor. Sim, ele se foi. Mas o seu legado ficou e, com ele, todo o meu amor.

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