segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O dia em que eu não passei no vestibular

Atualmente eu estou cursando Direito na UFCG, mas não estava nos meus planos largar minha cidade e Estado pra estudar fora de casa. Isso porque na minha cidade tem uma universidade federal com o curso de Direito, a UFRN, e era nela onde eu pretendia estar hoje. Mas, como eu bem sei, as idealizações têm mania de cair em meio ao vão. Ironias do destino me fizeram deixar minha mãe, que precisa da minha companhia, morando só, pra morar com alguém que não me suporta - e a recíproca é verdadeira em ambos os casos.

O dia em que eu não passei no vestibular da UFRN foi terrível. Me faltou o chão, o ar, a vontade de aproveitar o dia de verão que estava à minha frente. Eu recebi a notícia por telefone, e lembro muito bem da frase que ouvi do meu primo: "Chorinho (apelido de infância), seu nome não tá na lista..." E nesse momento me deu vontade de pedir pra ele olhar melhor, pra ver de novo. E de novo. E outra vez. Até que a realidade me atingiria como uma bala de canhão: eu não passara. Mas eu não pedi, eu apenas agradeci por ele ter olhado o site pra mim. Minha mãe estava ao meu lado e deu pra sentir pela minha falta de empolgação que o resultado fora negativo. Ela ficou triste, mas não mais que eu. E ela foi até compreensiva, sabia que eu havia perdido dois meses de aula por causa de uma cirurgia e que isso me atrapalhou um pouco. Mas era minha obrigação ter passado, e essa constante ficou pairando no ar o dia inteiro. E pelo resto do verão, enquanto não saiu o resultado da UFCG.

No fundo, eu sabia que não havia estudado o suficiente. Na verdade, eu pouco havia estudado, mas ao menos frequentava as aulas e prestava atenção em algumas delas. Bem, seja lá como for, eu acreditava que ia passar e fiz minha mãe acreditar nisso também. O churrasco estava preparado, era quarta-feira do mês de janeiro, e o pessoal da família tinha ido de Natal pra praia pq era um feriado. A cerveja estava gelando, a churrasqueira pronta pra assar a carne, e as mesas e cadeiras postas na grama de frente ao chalé. Não tivemos o motivo pra comemorar mas, já que estava tudo pronto, houve a "festa" mesmo assim. Eu não sabia se ria ou se chorava, era emoção demais pra um dia só. Guardei o meu pranto pra quando eu pudesse ficar sozinha com meus pensamentos e minha derrota.

Eu tive que ouvir da minha tia que eu nunca quis estudar, e era como se aquelas palavras saíssem da boca da minha mãe que não as pronunciou. E eu não tinha o que dizer, pq eu falhei e não havia justificativa pra isso. Tive que ouvir da vizinha que eu seria bacharela em Direito pq eu não passaria na OAB. Detalhe: nem no vestibular eu havia passado e minha OAB já fora desacreditada. Eu simplesmente retruquei, pensativa: "Vá indo, que eu vou voltando".

Mas algo naquele churrasco me fez refletir sobre o rumo que a minha vida estava levando. Foi quando minha mãe disse a uma amiga: "Ela é muito inteligente, mas nunca quis saber de estudar. Quando era criança só tirava 10 sem pegar nos livros, e no ensino médio ficou em todas as recuperações, só tirava nota 'perdida'. As professoras sempre elogiavam a inteligência dela, mas reclamavam da bagunça e das conversas na hora da aula. Uma vez ela ganhou medalha de ouro num concurso de poesia, e as colegas que eram as primeiras da sala tiraram o segundo e o terceiro lugar. Hoje as duas estão fazendo medicina, passaram no primeiro vestibular."

O pior de ficar pra trás é ver os amigos seguindo em frente e acenando pra nós, mostrando que a vida continua e que é pra frente que se anda. Quanto mais eu pensava nisso, mais triste eu ficava. Foram noites e litros inteiros pra calar o grito que eu não dei e que ficou atravessado na minha garganta. Mas a angústia não perdurou o mês inteiro, porque uma ou duas semanas depois saiu o resultado da UFCG e todo o sofrimento se esvaiu feito fumaça. A partir desse momento o verão passou a ser o melhor de todos e o carnaval, então, nem se fala. E eu prometi a mim mesma que, se eu passasse no vestibular, aproveitaria o ano inteiro pra compensar a humilhação que eu sofri naquele dia em que eu NÃO passei na UFRN.

Aqui estou eu, aproveitando intensamente o meu ano e curtindo a minha vitória, enquanto outros que estudavam comigo e me davam conselhos do tipo "vá assistir aula", ou que faziam perguntars incrédulas do tipo "vc não fez os exercícios?!" tentarão passar novamente no vestibular ou se contentaram em cursar nas universidades particulares da vida. Eles me diziam o que fazer, achando que eu trilhava o caminho errado. Mas o tempo provou que cada um sabe de si, e que o mérito é dado a quem é digno de recebê-lo. Eu nunca duvidei do meu potencial, apesar de ele ter sido diversas vezes subestimado pela maioria.

Sabe aquele velho ditado: "quem ri por último ri melhor"? É mais ou menos isso.

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