sábado, 23 de outubro de 2010

Nostalgia: noitadas na calçada

Quando eu era criança minha casa vivia rodeada de amigos dos meus pais e, quando havia festinhas, eu adorava estar entre eles. Eu ficava ali caladinha, ouvindo a conversa dos adultos que tanto me fascinava. Eu adorava as piadas que eles contavam, adorava o modo como eles se divertiam com aquilo: bebendo, rindo à toa, sendo felizes. E eu aprendi a nunca pegar a cerveja pelo meio, para não congelar; e quando congelava, me mandavam alisar o fundo da garrafa. Aprendi o que era uma cerveja "capa branca", e que a saideira nunca era a última cerveja da noite. Depois sempre vinha cerca de três "expulsadeiras". Aprendi que quando a espuma era demais, e ia derramar no copo, bastava colocar o dedo que ela baixava. Eu aprendi também a mexer no som para comandar o repertório da turma e poder cantar com minha mãe: "Eu lembro da moça bonita da praia de boa viagem..."

Eu me divertia na noite de Natal acordada até a hora em que eles ficavam na calçada, e ouvia sempre a mesma pergunta: "Menina, você não tem sono, não?", mas eu não tinha. Eu trocava qualquer sono por aquela mesa rodeada de amigos dos meus pais. No reveillon eu amanhecia o dia na calçada e ainda acompanhava minha mãe até alguma outra casa onde a farra continuasse rolando. Porque depois que meu pai partiu para um plano superior (isso faz parecer menos triste do que de fato é), eu passei a ser a companheira da minha mãe. Jantares, aniversários, festinhas, ela me levava a todos os lugares como sua fiel escudeira. E eu sempre lá, ouvindo a conversa dos adultos, ouvindo e adorando tudo.

Talvez de tanto conviver com pessoas mais velhas e por gostar de ouvir suas histórias, eu tenha crescido com uma cabeça à frente do meu tempo. Não por mérito próprio, mas a vida me obrigou a isso. Me fez amadurecer cedo demais, enfrentando uma grande perda precocemente e tendo lutado para viver logo após nascer.

Hoje eu participo de farras no mesmo estilo com os meus amigos, e me divirto muito. Adoro tudo isso! Mas, não sei porque, acho que nada se compara àquela felicidade que eu tinha de ficar na mesa dos adultos ouvindo e observando a tudo. Acho que eu admirava toda aquela alegria e queria também participar das mesmas emoções um dia. Esse dia chegou (um tanto antes da hora), mas nada consegue superar aquelas noitadas na calçada, que aconteciam quase toda sexta-feira. E tomara que algum dia eu me sinta tão realizada com os meus amigos como eu me sentia com os amigos da minha mãe. Tomara.

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